quarta-feira, 11 de maio de 2011

HUANISMO


Humanismo(século Xv ao início do século Xvi)
Início: 1434 – Fernão Lopes é nomeado cronista-mor da Torre do Tombo.
Termino: 1527 – Quando Francisco Sá de Miranda volta da Itália, trazendo novos padrões estéticos – versos decassílabos e o soneto – pondo fim ao período humanista.
Contexto Histórico
• O humanismo constitui-se, no período de transição entre a Idade Média e o Renascimento, teocentrismo para o antropocentrismo.
• Início da ascensão da burguesia e o desenvolvimento do comércio.
• Crise no regime feudal de servidão, que passa a dar lugar à economia mercantilista.
• Crise na Igreja Católica, que tem seu prestígio seriamente abalado com o duplo Papado: o de Roma e o de Avignon, França.
• Fortalecimento da figura do rei, com a crise do sistema feudal e o desmoronamento da velha ordem da nobreza.
• Revolução de Avis.
Teatro Popular: Gil Vicente
• Iniciador do teatro popular em Portugal: Auto da Visitação.
• Poético: a pesar de a linguagem ser simples, a forma era poética. Os diálogos eram versificados.
• Influência de Juan del Encina.
• Satiriza o clero, a nobreza e o povo.
• Retrata os valores populares e cristãos da vida medieval.
• Critica, de forma contundente, a sociedade de tom moralizante.
• Temas de caráter universal.
• Tipos humanos: o papa, o clero, o rei, a mulher adúltera, a beata, diabos, velho inocente, judeus, etc.
• Peças de caráter crítico-social: Quem tem farelos, Auto da Índia, etc.
• Peças religiosas: Auto da Alma, Trilogia das barcas, etc.
Gil Vicente
      Nos primórdios do século XIV, era costume na corte portuguesa, durante os ofícios religiosos do Natal, pastores irromperem na capela, e dançando e cantando, para louvar o Deus menino, Eis que na noite de 7 para 8 de julho de 1502 um homem fantasiado de vaqueiro repentinamente entra na câmara da rainha D. Maria, mulher de D. Miguel de Portugal, a qual havia dado a luz a um menino, futuro rei D. João III. Esta manifestação agradou os presentes e foi pedido ao seu autor e intérprete que a repetisse nos festejos de Natal, em honra ao nascimento do Redentor.
            Ao homenagear o nascimento de um homem e não o de Cristo, como até então faziam os autos de Natal, Gil Vicente, com seu Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro, deu início ao teatro leigo em Portugal, isto é, o teatro profano, praticado fora da Igreja.
            Essa primeira peça de Gil Vicente apresentava uma nítida influência da dramaturgia do espanhol Juan del Encina, de caráter pastoral e religioso. Durante 34 anos produziu textos teatrais e algumas poesias, sendo sua última peça, Florestas de enganos, datada de 1536.  Embora pouco se saiba a respeito de sua origem, pode-se afirmar com certeza que viveu a vida palaciana como funcionário da corte e que possuía bons conhecimentos da língua portuguesa, bem como do castelhano, do latim e de assuntos teológicos. Gil Vicente criou peças em português, em castelhano e algumas nas duas línguas.
            Do ponto de vista técnico, a dramaturgia de Gil Vicente era rústica e primitiva. Desconhecia o teatro greco-latino e a tradicional lei das três unidades (único lugar, tempo delimitado e apresentar o mesmo tipo de ação), que sempre caracterizou o teatro clássico.
            A forma teatral de Gil Vicente, portanto, reside fundamentalmente nas poucas manifestações de dramaturgia existentes na Idade Média, em geral apresentações relacionadas com datas religiosas.
            Apesar dessas origens, o caráter do teatro vicentino não é teocêntrico. A obra de Gil preocupa-se essencialmente em apresentar o homem em sociedade, criticando-lhe os costumes e tendo em vista reformá-los. Trata-se, portanto, de uma obra com missão moralizante e reformadora. Não visa atingir instituições, mas os homens inescrupulosos que as compõem.
            As peças de fundo religioso, portanto, não almejam difundir a religião nem converter os pecadores, mas demonstrar como o ser humano em geral – independentemente da classe social, raça, sexo ou opção religiosa – é egoísta, falso mentiroso, orgulhoso e frágil perante os apelos da carne e do dinheiro.
            Dessa forma, nenhuma classe ou grupo social escapa à sátira mordaz de Gil Vicente: o rei, o papa, o clérigo corrupto e devasso, o médico incompetente, o curandeiro, a mulher adúltera, a alcoviteira, o juiz desonesto, o camponês, a donzela, o velho, o parvo, a beberrona, a moça da vila, o soldado, o judeu oportunista, o burguês ignorante e materialista. Neste sentido, Gil Vicente mostrava-se crítico diante da nova ordem social dos valores burgueses que surgiram na sociedade portuguesa do início do século XVI.
O Velho da Horta
Análise da obra

                Em O Velho da Horta, de 1512, Gil Vicente revela perfeito domínio do diálogo e grande poder de lidar com personagens e ações que se aproximam da comicidade. Utiliza pouco aparato cênico, colocando toda a ação em um mesmo cenário (a horta) e os acontecimentos que se realizam fora da horta são referidos como fatos que vêm de fora. Todos os episódios têm uma única direção: o desfecho, e isso garante a unidade da peça.
            O Velho da Horta é uma peça de enredo, na qual se desenvolve uma ação contínua e encadeada, em torno de um episódio extraído da vida real, ou em torno de uma série de episódios envolvendo uma personagem central, ou articulando uma ação dramática homogênea e completamente desenvolvida, com um travejamento mais complexo, com começo, meio e fim.
            Gil Vicente é um criador de tipos. A linguagem do Velho é um arremedo da poesia palaciana. A linguagem da Moça é zombeteira e se contrapõe à do velho. A obra é uma peça de teatro escrita em versos.
            O argumento gira em torno das desventuras de um homem já entrado nos anos e seu frustrado amor por uma jovem que vem à sua horta comprar verduras. Por meio do diálogo entre o velho e a jovem, Gil Vicente capta a crueza de uma situação que oscila entre o ridículo e o ilusório. O Velho apaixonado deixa-se levar por um amor imprudente e obcecado; a Moça, motivo dos sonhos do Velho, é irônica, sarcástica e retribui as declarações de amor com zombarias.
            A cena inicial é marcada pela tentativa de conquista e o diálogo se dá entre o lirismo enamorado do Velho e os ditos zombeteiros da Moça. Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus préstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o êxito está próximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho. Finalmente, entra em cena a Justiça que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperança de ver realizado tão louco amor. No final, vem a notícia de que a jovem que motivou tão tresloucada paixão casou-se.   
Temática
            O tema central é o amor tardio, extemporâneo, as conseqüências desastrosas desse amor e o patético e ridículo do assédio de um velho, que se julga irresistível, a uma jovem esperta e prudente.

I.O Movimento

  • Movimento de transição: Teo x Antro
·         Presença da mentalidade maniqueísta

II.O Autor

·         uso constante de alegorias
·         teatro de quadros, além das “peças de enredo”
·         rompimento com a verossimilhança
·         rompimento com a linearidade clássica
·         preocupação com a religiosidade
·         personagens tipos
·         proteção: Parvo
III.A Obra (1512)
·   Crítica ao amor senil , considerando inadequado e imoral
·   Desprezo da categoria tempo:
§ não preparação de cenas e entradas de personagens
§ realismo na caracterização social,psicológica e lingüística  de suas personagens.
§ Grande domínio do diálogo e grande poder de exploração do cômico
§ Pouco aparato cênico: a burguesia não andava muito divorciada da área da pequena economia agrícola.
§ a ação decorre toda na horta
§ *os acontecimentos que se realizam fora dela são conhecidos através de informações que vêm de fora
§ *todos os episódios convergem para seu desfecho.
·         Revela a beatice do velho e a sua ignorância religiosa
·         Dispõe-se a preparar uma impressão de absoluta serenidade meditativa na sua personagem – produz um inesperado efeito de contraste com a transformação psicológica provocada por uma paixão à primeira vista.
* ladainha onomástica da Alcoviteira
Lista ou catálogo de nomes próprios
As figuras invocadas eram pessoas da Corte e os próprios espectadores. Apelo para virtudes mágicas de santos prematuros.

Personagens

. Parvo – criado do Velho com pouca cultura,limitando-se a chamar-lhe às realidades primárias da vida (o comer)
-    Incapaz de compreender grandes dramas.
. Alcoviteira – figura pitoresca da baixa sociedade peninsular
-    Astuciosa e mistificadora, cuja moral independe de todas as leis da sensibilidade.
. Alcaide – antigo oficial de Justiça
. Beleguins – agentes de polícia
. Mocinha – personagem que vai até a horta comprar
. Mulher – espera do Velho
. Velho – sessentão , proprietário de uma horta. Apaixona-se subitamente por uma jovem compradora.
. Moça – rapariga com certa experiência, já balzaquiana ,com resposta ao pé da letra
-          confiante em si mesmo,disposta a zombar de um velho inofensivo,sem quebra da sua dignidade pessoal.
Ø  Observar no enredo a sequência magistral de estados de espírito com que a moça acata ou reage aos galanteios do velho.

O Enredo

A ação se inicia quando a Moça vai à horta do Velho buscar hortaliças, e este se apaixona perdidamente por ela. No diálogo entre ambos estabelecem-se dois planos de linguagem: a linguagem galanteadora do Velho, estereotipada, repleta de lugares-comuns da poesia palaciana do Cancioneiro Geral, cujo artificialismo Gil Vicente parodia ironicamente, e a linguagem zombeteira e às vezes mordaz da Moça que não se deixa enganar pelas palavras encantadoras do pretendente e não se sente atraída nem por ele , nem por sua fortuna, nem por sua "lábia" cortesã. São duas visões opostas da realidade: a visão idealizadora do Velho apaixonado e a visão realista da Moça.
Uma alcoviteira, Branca Gil, promete ao Velho a posse da jovem amada e, com isso, vai extorquindo todo seu dinheiro. Na cena final, o Velho, desenganado, só, e reduzido à pobreza, pois gastara tudo o que tinha, deixando ao desamparo suas quatro filhas, reconhece o seu engano e se arrepende. A Alcoviteira é açoitada, e a Moça casa-se honestamente com um belo rapaz. A introdução ao texto da peça esclarece que a farsa foi encenada em 1512, na presença de D. Manuel I, rei de Portugal
Entra a moça na horta e conversa com o velho
a) de início responde despretensiosamente às primeiras cortesias:      
b) logo mais começa a perceber a faceirice do pretendente:
c) procura, então, fazer-se de desentendida:
d) começando a aborrecer-se, reage secamente, mas oferecendo ao Velho importuno um ensejo para recomposição de suas atitudes:
e) a seguir, percebendo já a insignificância do pretendente, resolve então troçar com as tontices do Velho, procurando às vezes mostrar-lhe o ridículo em que se mete:
f) distraída, a Moça já manifesta cansaço com as tontices do Velho. Oferecendo-lhe generosamente o jardim, diz o Velho e lhe responde a compradora:
g) mas no momento em que o Velho procura complementar as suas declarações com atitudes objetivas de conquista segurando-lhe a mão, a Moça,surpreendida com a ousadia,retira-se da horta:

Considerações Finais

. Durante os diálogos entre o Velho e a Moça apresentam-se em versos e não em prosa
. Os conceitos formulados pelo Velho acerca da natureza do amor são do formulário lírico dos poetas quinhentistas (Petrarca)
. A interlocução do Velho apaixonado, contagiado pelo gosto das antíteses e pelo conceito do conflito entre a razão e o  sentimento amoroso
“que morrer é acabar
e amor não tem saída”
Ø  Expressões usadas pelo Velho para se referir à Moça.
“flor, Senhora, meu coração, meu paraíso, meus olhinhos garridos, minha rosa, meu arminho, meu amor, minha alma verdadeira, minha alma e minha dor.”

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